J.Inácio (José Inácio de Oliveira) nasceu no dia 11 de junho, no povoado Bolandeira, em Arauá-Sergipe, faleceu no dia 01 de agosto de 2007, em Aracaju-SE. Foi pintor e caricaturista, iniciou sua trajetória nas artes aos dezoito anos de idade, ao interpretar Judas em um auto encenado na Semana Santa, na Colina do Santo Antônio. Um ano depois, começou a sua carreira como pintor, tendo como seu primeiro mestre o pintor e matemático Quintino Marques. Trabalhou para jornais e revistas e, ainda, vendeu poemas nas ruas com o pseudônimo de Inácio Ventura. (conhecido como "o pintor das bananeiras") pintou com cores fortes e repetidas objetos internos da casa, da cozinha, bananeiras, jaqueiras, outras fruteiras, que se fundem nas paisagens típicas da terra sergipana.
J. INÁCIO Floresta Com Bananeiras Ao Entardecer
Óleo sobre tela 125 x 105 cm 1991. Acervo: Cezar Britto
Suas obras são a mais próxima expressão da alma sergipana. Viveu muito, 96 anos, J. Inácio teve tempo de mesclar a sua arte, mas preferiu afirmar-se na repetição, deixando para os críticos o problema teórico da interpretação, como ele próprio prometeu, certa feita, ao falar de si mesmo. É certo que seu filho Caã herdou formas e cores, ainda que mantenha-se tímido, sem querer trafegar na esteira do modelo do pai.
J. Inácio não precisou da morte para ser “santificado” entre os sergipanos. Sua vida errante, desapregada dos cânones tradicionais, não justifica, apenas, as três viagens que fez, a pé, do Rio de Janeiro, nem mesmo a convivência turbulenta com seu irmão santo, Padre Pedro. Sem casa, sem rumo diário para o exercício da sobrevivência, simplesmente tocou o cotidiano, sem requerer fortunas, ou mesmo soldos ou salários que pagassem suas magras contas. Vendeu quadros geniais como quem vende bananas, sem qualquer preocupação em diferenciar uma coisa da outra. Não raro foi tido como doido, eufemismo popular de patologias diversas de loucura, mas a tudo resistiu, com uma ponta de ironia, marcante em seu passeio de quase um século pelo mundo.
Não há, ainda, um inventário da obra inaciana. Nem da quantidade, tarefa desafiante, nem da qualidade, que vai exigir análise crítica. Há, contudo, alguma coisa escrita em torno da figura do artista, com reprodução de sua arte.
J. Inácio foi um artista, mais que os outros de Sergipe, de trajetória singular, um tropicalista antes do Tropicalismo, um ecológico, a insistir em fixar bananeiras, jaqueiras e mangueiras nas telas que são, às centenas, espalhadas pelo Brasil. J. Inácio teve escola, passou pelo Rio de Janeiro, mas desgarrou-se para ser, na individualidade do seu estilo, um ponto de referência da arte sergipana.
Poeta e andarilho, J. Inácio fez o registro da vida do interior sergipano, simbolizando na casa de farinha o fazer e o sobreviver de uma gente sensível, que produz as mais diversas manifestações culturais e está com as mãos prontas para aplaudir, nas festas do Natal, os Reisados e Cheganças, Guerreiros e Pastoris, Cacumbís e Taieiras, ou, no São João, Bacamarteiros e Batalhões, Sambas de Roda e Emboladores de Coco.